sempre estou com o último cigarro
com a última cerveja
com a última conta
esperando a última gota
de esperança se esvair
dos meus olhos
Dexter Gordon
tocava bem,
eu minto bem,
me engano sempre e
engano os outros muito bem
eles querem ser enganados
querem minhas mentiras
ouvem atentamente as elucubrações
de sanatório que regurgito
acham algumas vezes que sou
inteligente
mas não sabem
que estou sempre me acabando
sendo comido por dentro
pela futilidade pedante
que me deixo levar
todos ao meu redor são assim
mentem muito bem
atuam junto comigo em
uma peça muito bem ensaiada
pedi demissão desse grupo de teatro
voltei para os meus últimos cigarros
minhas últimas cervejas
e minhas últimas contas
para esperar essa última
gota de esperança
escorrer
e se misturar ao mundo
numa explosão de supernovas
que me levará ao oriente
a templos budistas
me deixando de fronte a
BUDA
para andar na palma de sua mão
me sentar nela
e lhe contar as minhas profecias
fazer dele meu discípulo
lhe ensinar o poder da embriaguez
consciente
enquanto me embriago
com as mais lindas
pernas orientais que giram o mundo
em seu compasso diminuto
vamos subir nas mais altas
torres e comer pão a céu aberto
deixar cair as migalhas nos transeuntes
rasgar livros para que montem o quebra cabeça
e deixar tudo isso para andar
nas conchas do pacífico
depois iremos nos despedir
pois estarei andando e entrando
nas abobadas mais amorosas
e quentes que já se viram
busco nelas a paixão de me fazer
PARAR
RESPIRAR
E MORRER
mas antes de todo esse cataclismo
hipnótico
a última cerveja
a última conta