segunda-feira, 18 de maio de 2009

12 mortos e 13 feridos no Azerbaijão


Sai para mamar uma cerveja enquanto decidia se iria ou não procurar emprego. Sentei em um bar qualquer e fiquei ali olhando pra uma tv no lado esquerdo do balcão. Só vendo os rostos passarem sem significado. A razão de todos os bares terem um tv sempre foi um incógnita pra mim. Acredito que seja para os garçons não ficarem entediados. Mas um rosto teve significado. Era Gadyrov. Um dos meus vizinhos. Tinha se mudado para cá há uns três meses. Veio do Azerbaijão. Bebia e fumava o dia inteiro. Trabalhava como tradutor de francês para uma editora. Mas o que ele teria feito?

- Aumenta o volume da TV ai! – disse pro garçom que nunca deve ter ouvido esse pedido na vida dele.

- Só um minuto.

A repórter estava na porta de uma Universidade no Azerbaijão e dizia que o jovem Gadyrov matara 12 pessoas e ferira outras 13 antes de se matar. E que ninguém sabia o motivo deste ato bárbaro. Não pensava que ele seria capaz de algo assim. Tinha sumido à duas semanas. Conversei com ele umas cinco vezes nesses três meses que ele estava morando no apartamento do lado. Em uma dessas vezes ele me chamou para beber na sua casa. Disse que tinha umas cervejas e uma garrafa de um bom vinho tinto. O vinho era bom. Seco. Do jeito que eu gosto.

Ele me contou a sua história. Que dois anos atrás sua noiva o largou. Mesmo ele tendo pagado os estudos dela. O motivo é que ela conhecera um mundo diferente. Que o mundo acadêmico era diferente do mundo que ele oferecia pra ela. Gadyrov era uma boa pessoa. Morou três anos na França e tinha voltado pro Azerbaijão para trabalhar como tradutor de francês. Conheceu Ólya quando ela trabalhava como garçonete em uma lanchonete. Começaram a namorar e ela mudou pra casa dele.

O romance tinha começado bem. E Gadyrov estava cada dia mais apaixonado. Dava inúmeros livros para Ólya ler. Ensinou pra ela o francês e fez ela retomar os estudos. Ela não havia terminado o ensino médio. Tinha parado no fundamental. Disse que se ela se saísse bem ajudaria ela a pagar uma faculdade. Ela era inteligente. E esforçada. Não perderia uma oportunidade de mudar de vida assim. Estudou e entrou para a Academia Estatal do Petróleo.

O que era um sonho foi se enfraquecendo aos olhos de Gadyrov. Ela que só o via. Agora tinha amigos. Colegas de estudo. Trabalhos para fazer. Começaram a se distanciar. Só não se distanciaram na cama. Era um alívio pra ele. Provava que ela ainda era dele. E pra tentar resolver o problema da distância a pediu em casamento. Se com mulheres isso resolvesse a taxa de divórcios e o número de bêbados nos bares a tarde não seriam tão grandes.

Então o esperado aconteceu. Ela o largou. Ele contava isso chorando e bebendo no gargalo da garrafa de vinho. Chorou mais um pouco e secou a garrafa. A jogou dentro do banheiro onde tinha mais umas duas. Enxugou as lágrimas e começou a esbravejar:

- Um dia ainda mato aqueles professores, aqueles monitores que tiraram ela de mim! – gritava engolindo o choro.

- Que isso Gadyrov, os caras não teem culpa! Ela foi embora porque quis, elas sempre inventam desculpas, mas vão porque enjoaram da gente.

- Não foi isso, sempre nos entendemos bem! Aqueles professores falaram pra ela ir estudar fora, que ali e casada ela não teria futuro!

- Calma ai Gadyrov, acabou porque tinha de acabar, tudo o que você poderia oferecer pra ela já tinha sido oferecido. Ela queria mais, só isso! Me dá uma cerveja ai!

- Eu poderia oferecer muito mais pra ela, uma casa boa, uma família...

- Mas ela queria mais que isso, ou nem isso!

Chorou mais um pouco e desabou. Fechei a porta levando comigo seis cervejas como pagamento pela conversa e fui embora. Toda vez que o encontrava depois disso ele estava bêbado. Gritava que iria matar aqueles que tiraram Ólya dele. Fazia esse show todos os dias na porta do prédio. Eu ficava na janela bebericando uma cerveja e assistindo o pobre gritar até se cansar. Caia sentado no chão e o porteiro do prédio o levava pro seu apartamento. Só escutava a reclamação.

- Esse cara não aprende mesmo, todo dia tenho de traze-lo pro seu quarto, não recebo pra isso.

A vida é sempre põe uns loucos no mundo. Alguns só fazem promessas de fazer loucuras. Mas de vez em quando tem aqueles que cumprem o que prometem. E Farda Gadyrov foi um desses. Matou 12 e deixou 13 feridos.

- Mais uma cerveja! – sem isso não dá pra engolir a notícia.

 

Notícia retirada do site:

http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,ataque-a-universidade-no-azerbaijao-deixa-12-mortos,363421,0.htm

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Camila M. Morais disse...

realmente promessas sempre tendem a ser quebradas. mais se bem que promessas como essas são até razoavelmente boas de serem cumpridas. rs. a vida é um ovo.

Emilíana Torrini - Jungle Drum


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